2 de maio de 2017

ECOA NAS ILHAS: É PÁSCOA!

Por Ir. Ismael G. Frare, OSJ

A experiência missionária junto aos povos ribeirinhos às margens do Rio Amazonas foi um memorável estar “em saída” e tecer relações de encontro. A Paróquia Nossa Sra. dos Navegantes, sede da Missão, é em Santana no Amapá, contém 105 comunidades espalhadas pelas ilhas ao longo do rio. Estas ilhas pertencem ao estado do Pará. Lá pude aprender com um povo de ouvido afinado, atento à Palavra de Deus. Famílias hospitaleiras, simples e “de fé”. Famílias e vizinhos orantes, que só falavam de Deus. Limito-me a contar algumas histórias de vida e curiosidades que meu coração experimentou:

Seu Manoel, de semblante bem vivido, que nos contava de como conseguiu que os ribeirinhos do Igarapé do Caráxi se libertassem dos “donos da terra”. “Esse povo se libertou!”, dizia ele. Enquanto ele contava, pensei: Manoel é um “Moisés” para este povo. Acabou a ilha da escravidão. Tornou-se ilha da solidariedade, fraternidade, dos anawin. Na contação da história de sua vida, ele se pautava na Palavra de Deus.

O Rose deu um bonito testemunho de perdão, ao estilo cristão autêntico. Mataram o filho dele que tinha 17 anos. O ódio tomou conta do Rose e procurava mata o rapaz que tirou a vida do seu filho. À luz da Palavra de Deus ele percebeu que o melhor para a vida dele era perdoar. Lá dentro do açaizal ele gritou toda a raiva e pediu a Deus força para o perdão. Se encontrou com Deus, com quem matou seu filho, e consigo mesmo, alcançou o perdão. Dizia ele que ficou leve. Rose chamou todos os vizinhos e rezamos o terço juntos antes de dormir.

O “professor” do Igarapé Caetano é fruto do seu povo. Saiu dali, estudou, formou-se e voltou. Sozinho, numa sala, ensina várias crianças de seis diferentes turmas de 1º a 4º ano num entusiasmo, que só vendo! Infelizmente, nas escolas não tem merenda para as crianças todos os dias, assim estudam só até o intervalo. Crianças muito assíduas na aula, e o professor sensível com o fato que muitas crianças precisam ajudar na colheita do açaí.

A vida do povo é no ritmo das águas. A “água grande” (maré alta) possibilita navegar pelos vários igarapés e “furos”. Na “água pequena” só se trafega de casco ou rabeta, um barco pequeno motorizado. “Inverno” é o período chuvoso e “verão” é a seca, sem chuva. Estivemos lá bem na época do “lançante” que é quando a água grande é maior e até invade as casas.

Várias foram as nossas “paragens” (localidade) e em todas fomos muito, muito bem acolhidos. Redescobri o valor da hospitalidade: quem chega em nossa casa, é Jesus que chega. Armaram um “matapi” (armadilha para camarão) com tantos afagos e conseguiram pescar meu coração missionário.

Agradeço à Congregação dos Oblatos de São José por acolher minha vontade e à Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) por oportunizar esta experiência limitada, porém rica em aprendizado para nós Novas Gerações da Vida Religiosa Consagrada. É Páscoa! O anúncio do querigma é ecoante nas ilhas! Jesus ressuscita em cada gesto cristão daquele povo predileto de Deus!




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